um exímio negociador que nunca deixou de ser camelô – Jornal Advogado – Em Mato Grosso

um exímio negociador que nunca deixou de ser camelô – Jornal Advogado – Em Mato Grosso

Silvio Santos dizia tentar separar o empresário do artista. O homem que administrava as empresas tinha o mesmo tino visto na televisão e era admirado pelo poder de negociação. Controlava um grupo que chegou a ter quatro dezenas de empresas. Algumas deram muito certo, outras não.

O empresário veio antes do artista. Senhor Abravanel começou a carreira como camelô que oferecia canetas e capas para título de eleitor. No esforço de tentar vender mais, o artista veio à tona. O carisma que atraía o público à banquinha nas ruas do Rio de Janeiro era o mesmo que, anos depois, segurava milhões em frente à TV.

O primeiro grande negócio de Silvio Santos veio anos depois: o Baú da Felicidade. Um empreendimento que, avaliado aos olhos de hoje, faz pouco sentido para o cliente porque é um crediário ao contrário. O consumidor paga parcelas hoje para conseguir um produto amanhã. No mundo real, é exatamente o oposto: você leva o bem no presente e paga as parcelas no futuro. É verdade que o crédito ao consumo não era fácil na época.

Mas o Baú da Felicidade do empresário Silvio Santos deu certo porque o artista vendia algo mais: a magia. A ideia de ter um baú repleto de presentes após pagar a última parcela movia clientes. A fantasia crescia ainda mais com a chance de estar junto do ídolo no palco, em frente às câmeras, para concorrer a um carro ou a tão sonhada casa própria.

Para salvar o artista, o empresário usou a criatividade. Lançou um curioso plano de saúde com título de capitalização. O cliente pagava as parcelas, recebia atendimento médico e, muitos anos depois, receberia o dinheiro de volta. O encontro com um casal que perdeu o filho em um hospital conveniado, porém, pesou e o empresário desistiu do negócio.

Desistiu do setor de saúde, mas não da capitalização. E, assim, nasceu a Tele Sena.

A salvação da capitalização

O mais famoso título de capitalização brasileiro surgiu com a promessa de realizar o sonho de ficar milionário ou ganhar a casa própria. O cliente tenta a sorte e ainda tem a garantia do artista de que vai receber metade do dinheiro de volta um ano depois.

Autoridades, porém, desconfiaram. Na década de 1990, investigaram o produto com a suspeita de que se tratava de uma loteria disfarçada. Em uma mistura do empresário com o artista, Silvio Santos escreveu uma carta anexada ao processo que pedia o fim da Tele Sena. Em 23 páginas escritas a próprio punho, disse que o título de capitalização salvou o SBT da falência – e saiu vitorioso na Justiça.

Mas nem sempre tudo dava certo. Ele tentou sem sucesso importar para o Brasil o sistema de vendas por telefone – que só se popularizou anos depois. O Tele Sisan (abreviação do nome do dono) existiu na década de 1990 com a oferta de produtos que nem sempre faziam o gosto do brasileiro.

Recentemente, a internet resgatou a tentativa de venda de um esdrúxulo porta-papel higiênico com rádio AM e FM. É uma prova de que os gênios nem sempre acertam.

O rombo do Panamericano

Na década de 2000, o Brasil viveu anos de ascensão social e a ampliação do acesso aos serviços bancários. O empresário Silvio Santos surfou como poucos essa onda. Transformou uma pequena financeira em uma grande instituição financeira nacional: o Banco Panamericano.

Conseguiu até atrair a gigante estatal Caixa Econômica Federal, que passou a ser sócia do braço financeiro de Silvio Santos. Parecia que o SBT perderia o posto de principal gerador de receita do grupo.

O negócio, porém, levou um duro golpe meses depois da chegada da Caixa. O Banco Central percebeu que o Panamericano registrava várias vezes uma única operação. Assim, os números anunciados pelo banco eram muito maiores que a realidade. O rombo era de pelo menos R$ 2,5 bilhões. Até hoje há dúvidas sobre os responsáveis pelo rombo, e se o empresário sabia de algo.

Hotel e perfumes

Silvio Santos se desfez do banco cheio de problemas, e vida que segue. Abriu um hotel de luxo no Guarujá e apostou as fichas em um novo negócio: cosméticos.

Na última década, o negócio que mais cresceu no grupo foi a Jequiti Cosméticos. O produto mudou, mas a receita segue rigorosamente a mesma para o empresário: usar a emissora para anunciar o negócio, atrair fregueses com a promessa de prêmios milionários e ainda acenar com 15 segundos de fama na televisão.

Tem dado certo e, assim, Silvio Santos continuará na casa de milhões de brasileiras e brasileiros, seja como título de capitalização, sabonete ou perfume. Que essa essência dure ainda muito tempo.

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