Tarifaço ou tarifinho? Os produtos brasileiros que escaparam de taxas de Trump

Tarifaço ou tarifinho? Os produtos brasileiros que escaparam de taxas de Trump

Setores que estavam preocupados com a nova sobretaxa — como os de petróleo, laranja e aviões — aparecem na lista de produtos brasileiros que serão isentos.

O decreto de Trump detalha 694 produtos específicos isentos. Em geral, minerais, produtos energéticos, metais básicos, fertilizantes, papel e celulose, alguns produtos químicos e bens para aviação civil estão isentos da tarifação adicional.

Carne, frutas e café não entraram na lista de exceções. Mas na terça-feira (29/7) o secretário de Comércio dos Estados Unidos abriu possibilidade de tarifa zero para produtos agrícolas que os americanos não cultivam — algo que seria aplicado a todos os parceiros comerciais, não apenas o Brasil.

Desses, com exceção de Minas, em que Lula ganhou por margem apertada (50,2% dos votos válidos), todos deram vitória a Bolsonaro no segundo turno do pleito de 2022 (veja mais detalhes no gráfico), segundo dados compilados pela BBC News Brasil.

As novas tarifas entrarão em vigor em sete dias, a partir do dia 6 de agosto. Antes a previsão era que as novas taxas seriam implementadas já na sexta-feira (1º/8).

Em nota, a Casa Branca diz que adoção das tarifas visa “lidar com políticas, práticas e ações recentes do Governo Brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.

“A ordem considera que a perseguição, intimidação, assédio, censura e processo politicamente motivados pelo Governo Brasileiro contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e milhares de seus apoiadores constituem graves violações dos direitos humanos que minaram o Estado de Direito no Brasil”, diz a nota da Casa Branca.

No processo contra Bolsonaro mencionado na nota, o ex-presidente é acusado de ter orquestrado uma tentativa de golpe de Estado após perder a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Ele nega a acusação.

Nesta semana, uma missão especial do Senado esteve na Câmara Americana do Comércio, em Washington, para uma reunião com lideranças empresariais e representantes do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos.

O impacto das isenções

A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) calcula que a lista de exceções ao tarifaço representa 43,4% do total das exportações brasileiras.

Juntos, os setores isentos somaram US$ 18,4 bilhões em vendas para os Estados Unidos em 2024, de um total de US$ 42,3 bilhões, segundo análise da entidade.

“Embora essas exceções atenuem parcialmente os efeitos da tarifa de 50% anunciada, a Amcham reforça que ainda há um impacto expressivo sobre setores estratégicos da economia brasileira”, diz nota da entidade.

“Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor.”

O economista Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial e atualmente no Policy Center for the New South, avalia que a extensa lista de isenções minimiza o impacto sobre os consumidores americanos.

Segundo ele, ela inclui produtos brasileiros de difícil substituição por parte dos EUA em outros mercados.

“Minérios, gás natural, alumínio, madeira, além de prata e ouro… São todos insumos que encareceriam muito para os americanos. Então, [a lista de exceções] é uma forma de reduzir o custo das tarifas para os próprios Estados Unidos.”

Para o economista, um dos destaques entre os setores beneficiados é o aeronáutico.

“Não me surpreendeu o tratamento especial para o setor. A posição que os aviões da Embraer ocupam na aviação de curta distância e nas companhias regionais dos Estados Unidos é muito relevante”, diz Canuto.

“Não existe produto equivalente. Não haveria muita alternativa para os Estados Unidos.”

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais estimou que, caso a sobretaxa fosse aplicada a todos os produtos brasileiros, poderia impactar em recuo de 1,49% no PIB e perda de 1,3 milhão de postos de trabalho.

“Esse impacto com certeza será bem menor”, avalia Canuto.

Nesta quarta, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que o cenário desenhado não é o pior, mas ainda atinge a economia brasileira.

“Representa um cenário mais benigno, mas não quer dizer que os impactos não sejam pequenos”, afirmou em entrevista coletiva, em Brasília.

Segundo Ceron, o governo brasileiro vai manter um plano de contingência para auxiliar os setores afetados pela tarifa comercial de 50% sobre produtos brasileiros, mesmo com as isenções.

“O desenho macro [do plano] está pronto. Podemos até rever valores, mas não acredito que precisemos refazer o plano”, disse Ceron.

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior (2007–2011), também avalia que os efeitos econômicos continuam relevantes.

“Temos os produtos em que o Brasil tem competidores. Nesses casos, não dá para repassar preço, e o Brasil vai perder mercado”, afirma.

Segundo ele, mesmo setores não tão expressivos podem ser bastante impactados por dependerem fortemente dos Estados Unidos — como manga, mel ou porcelanato.

Para Barral, ainda é cedo para medir os efeitos políticos.

“Muitos setores serão afetados, mas, seguramente, do ponto de vista popular, Lula sairá politicamente fortalecido.”

Veja lista dos principais produtos que estão fora do tarifaço

Abaixo, confira a lista dos principais produtos do Brasil que foram excluídos da nova tarifa de 40% sobre importações para os Estados Unidos:

  • Castanhas-do-brasil com casca, frescas ou secas;
  • Polpa e sucos de laranja;
  • Petróleo;
  • Aviões e diversos artigos de uso aeronáutico, como pneus, motores, peças e turbinas;
  • Mica bruta;
  • Minério de ferro, aglomerado e não aglomerado;
  • Minério de estanho e concentrados;
  • Diversos tipos de carvão, linhito, turfa, coque, gás de carvão e outros derivados minerais;
  • Gases naturais, propano, butano, etileno, propileno, butileno, butadieno;
  • Matérias-primas de alumínio, silício, óxido de alumínio, potassa cáustica;
  • Diversos produtos químicos, fertilizantes, cera, resíduos petrolíferos
  • Madeira, cortiça aglomerada, polpa química de madeira, polpa de algodão, polpa de fibras vegetais, celulose;
  • Prata e ouro, na forma de lingote ou dore;
  • Ferro-gusa, ligas de ferro, ferronióbio, e outros produtos primários de ferro e aço;
  • Linhas, tubos e conexões de uso industrial, vários tipos de metais, borracha e plásticos para aviação civil;
  • Insumos para papel, papelão, celulose, artefatos de papel/papelão;
  • Alguns tipos de pedras, fibras, crocidolita, amianto, misturas de fricção;
  • Fertilizantes minerais e químicos de diversos tipos.

A lista completa de produtos isentos, em inglês, pode se vista no decreto assinado por Trump

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