O ‘Tecnofeudalismo’ e a concentração de poder nas Big Techs
A Nova Lógica de Acumulação e Concentração
Varoufakis argumenta que a crise de 2008 e a expansão do que ele chama de “capital em nuvem” aceleraram essa transição. A infraestrutura física do capital foi transformada em redes digitais para captura de dados, permitindo a concentração de valor em poucas corporações.
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Concentração de Mercado: Dados recentes mostram a concretização dessa concentração. O setor global de infraestrutura de nuvem (IaaS) atingiu US$ 171,8 bilhões em 2024. As três maiores empresas do setor — Amazon Web Services (AWS), Microsoft Azure e Google Cloud — controlam entre 62% e 66% desse mercado.
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Economia Plataformizada: Plataformas como a Amazon cobram “aluguel digital” de vendedores e exercem controle absoluto sobre as condições de venda. A lógica de rentismo, baseada na atenção e em métricas algorítmicas, mina direitos trabalhistas.
O Trabalho Plataformizado no Brasil 
A extração de valor por meio do trabalho plataformizado é observada de forma concreta no Brasil. Segundo o IBGE (PNAD Contínua), o país tinha cerca de 1,7 milhão de pessoas ocupadas em trabalhos mediados por aplicativos (transporte, entregas etc.) no terceiro trimestre de 2024.
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Informalidade e Crescimento: Entre 2022 e 2024, o número de trabalhadores plataformizados cresceu 25,4%, sendo que 71,1% deles estavam em situação informal, trabalhando em jornadas mais longas sob a lógica do “empreendedorismo pessoal”.
Críticas e Alternativas Conceituais 
A tese do tecnofeudalismo não é unânime. Alguns analistas argumentam que o fenômeno representa uma intensificação das dinâmicas de exploração capitalista adaptadas ao digital, e não um rompimento. Críticos também questionam a validade da analogia com o feudalismo histórico, que se baseava em relações estamentais e de propriedade material distintas do capitalismo moderno.
Como formas de superar esse paradigma, Varoufakis sugere:
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Criar marcos legais para limitar o poder das plataformas sobre dados e infraestrutura.
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Reinventar a internet como bem comum, com governança coletiva.
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Formular mecanismos para evitar a concentração de renda e garantir a justiça social.

