Moradores da Favela do Moinho inspiram o caminho da luta

Moradores da Favela do Moinho inspiram o caminho da luta

Luta da Favela do Moinho, em São Paulo, demonstrou que a força do povo organizado e insubmisso pode alcançar o impossível

O centro de São Paulo, a maior capital econômica do país, se tornou um verdadeiro campo de guerra na última semana. Bem ali, no coração do Bom Retiro, a Favela do Moinho nos deu uma lição de consciência e coragem. 

O governador fascista Tarcísio de Freitas (Republicanos), ansioso para impulsionar sua campanha eleitoral, ordenou o despejo das famílias que vivem ali com o objetivo de construir um parque urbano e transferir a sede administrativa do Governo do Estado para a região central. Sem dúvidas, essa movimentação está intimamente ligada aos interesses da especulação imobiliária que avança no centro de São Paulo. Todo esse processo aconteceu sob uma cruel repressão policial. Há meses, moradores relatam que a Polícia Militar invade casas no meio da madrugada, agredindo trabalhadores, faz prisões injustas e aterroriza as crianças e mulheres do bairro.

Nos últimos dias, essa política se intensificou com a operação da remoção, quando a Tropa de Choque e o BAEP (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) invadiram a comunidade e iniciaram a demolição das moradias. Os moradores foram violentamente agredidos e ao menos três pessoas foram presas por defender suas casas. Além disso, dezenas de crianças precisaram ser atendidas devido ao pânico causado pelas bombas de efeito moral, balas de borracha e gás lacrimogêneo. Um destacamento da PM chegou mesmo a fechar a entrada da Favela do Moinho, impedindo a passagem dos moradores, de parlamentares e da imprensa. 

Vale destacar que todo esse processo também compôs a vitrine da campanha do governador Tarcísio para as eleições de 2026, com o objetivo de fortalecer a sua base fascista. Não à toa, foi grande o investimento na circulação de vídeos exaltando a ação da polícia contra aquelas famílias. 

Foram semanas de reuniões, manifestações e verdadeiras revoltas populares: os moradores chegaram a jogar lixo e atear fogo nos trilhos do trem que dão acesso à comunidade mais de uma vez, como forma de chamar atenção da população sobre a situação do local. Mas o que continuaram recebendo do poder público foi mais violência e violação de direitos por parte das forças policiais. 

A questão é que, quando se trata de estar entre a vida e a morte, quando não se tem mais nada a perder a não ser os grilhões que acorrentam à miséria e à exploração, lutar é a única saída. 

Não é demais lembrar que as famílias trabalhadoras vivem ali em péssimas condições: formada na década de 1980, a Favela do Moinho só conquistou acesso ao saneamento básico em 2022. A realidade é de esgoto a céu aberto, incêndios e moradias de risco. Esses trabalhadores, herdeiros dos operários que fundaram essa comunidade, querem moradia digna. Mas enquanto os trabalhadores foram empurrados para viver nas periferias da cidade nessas mesmas condições, a Favela do Moinho segue como uma ferida aberta na paisagem do centro, lembrando que a realidade para a grande maioria do povo de São Paulo não é o cartão postal da Avenida Paulista.

E então, a última favela do centro da cidade realizou um feito que deixou muitos analistas e críticos pessimistas da conjuntura, no mínimo, atordoados. Por um lado, obrigou que a mídia tradicional, altamente comprometida com os interesses dos ricos, ao menos revelasse o caráter da especulação imobiliária no Centro. Por outro, apesar dos esforços de limitar nossas possibilidades de luta e conquista à atuação dentro da institucionalidade, a Favela do Moinho demonstrou que a força do povo organizado e insubmisso pode alcançar o impossível.

De fato, a escalada das lutas e da barbárie nos últimos dias obrigou que o Governo Federal suspendesse a cessão da área afetada para o Governo do Estado na terça-feira (13) e, em seguida, o ministro das Cidades veio mediar uma negociação. Assim, as famílias da Favela do Moinho conquistaram o Auxílio-aluguel de R$1200 e um aporte de R$250 mil para a compra das novas habitações. 

A resistência ainda não terminou, pois o abuso e a violência policial é uma política de Estado que acontecia antes mesmo da desapropriação e, portanto, seguirá reprimindo o povo pobre e trabalhador enquanto este sistema de desigualdade e opressão existir. Mas essa vitória ensina uma valiosa lição: a luta popular conquista e alavanca a consciência coletiva sobre o poder do povo.

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