Embaixada dos EUA critica STF e chama Corte de ‘Supremo Tribunal de Moraes’

Quase todos os senadores e parlamentares alinhados ao ex-presidente, como Marcos Pollon e Luiz Ovando, adotaram o silêncio
Os parlamentares de Mato Grosso do Sul, mesmo aqueles mais alinhados com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), estão cautelosos com comentar as alegações finais do processo em que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu a condenação de Bolsonaro por vários crimes, entre eles, tentativa de golpe de Estado.
Dos 11 parlamentares que representam Mato Grosso do Sul no Congresso Nacional, somente dois deles se manifestaram nas redes sociais: o deputado federal Rodolfo Nogueira (PL) e a deputada federal Camila Jara (PT), um de direita, em defesa do ex-presidente, e outra de esquerda, elogiando o posicionamento de Gonet.
Parlamentares que eventualmente aparecem ao lado de Jair Bolsonaro, como os deputados federais Marcos Pollon (PL) e Luiz Ovando (PP) e a senadora Tereza Cristina (PP), adotaram a discrição em suas redes sociais. Em outras ocasiões recentes, eles apareceram ao lado do ex-presidente, seja em publicações comentando atos do Supremo Tribunal Federal (STF), seja em manifestações na Avenida Paulista.
Marcos Pollon fez publicações defendendo policiais de acusações de violação de regras em abordagens, Tereza Cristina defendeu a Lei da Reciprocidade, da qual foi relatora e que foi objeto de ataque de Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PL de São Paulo que está “autoexilado” nos Estados Unidos, e Luiz Ovando publicou imagens de uma sessão solene em homenagem a esportistas.
O deputado federal Vander Loubet (PT) também evitou comemorar ou comentar o parecer de Paulo Gonet.
Em suas redes sociais, apenas publicou foto ao lado de Camila Jara e demais integrantes da bancada do PT, divulgando uma nova campanha do partido para resgatar o patriotismo, com os dizeres “meu partido é o Brasil”.
Os tucanos Beto Pereira, Dagoberto Nogueira e Geraldo Resende passaram longe do tema e comentaram apenas ações de seus próprios mandatos em suas redes sociais.
Os senadores Nelsinho Trad (PSD) e Soraya Thronicke (Podemos) também não se manifestaram.
Quem se manifestou?
Rodolfo Nogueira, o único a criticar Paulo Gonet, publicou um vídeo no Instagram em que afirma: “Dando continuidade à farsa do golpe, a PGR [Procuradoria-Geral da República] acaba de pedir a condenação do presidente Jair Bolsonaro. Golpe é tirar o maior líder político da direita da eleição”, afirmou.
Já Camila Jara postou em suas redes sociais uma imagem afirmando que a acusação de golpe contra Jair Bolsonaro “tem preço”. “Se confirmado, será a primeira vez na história que um ex-presidente do Brasil é condenado por tentar destruir a democracia que jurou defender”, disse.
A alegação final
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por sua liderança na tentativa de golpe de Estado que visava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vencedor das eleições de 2022.
Em alegações finais enviadas ao STF, Gonet afirma que Bolsonaro chefiou uma organização criminosa com o objetivo de subverter a ordem democrática, utilizando-se de estruturas do Estado para atacar o sistema eleitoral e fomentar a instabilidade institucional.
Entre os crimes apontados estão liderança de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado à União com grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado – todos relacionados aos atos golpistas que culminaram no 8 de Janeiro. Somadas, as penas podem ultrapassar 43 anos de prisão.
Gonet ressalta que as acusações não se baseiam em conjecturas, mas em provas materiais e depoimentos robustos, que incluem arquivos digitais, gravações, conversas apreendidas no celular de Mauro Cid e confissões públicas do próprio Bolsonaro.
Entre os principais elementos de prova estão a estrutura paralela da Abin utilizada para espionagem política, a live no Palácio do Planalto em que Bolsonaro atacou o sistema de urnas eletrônicas e a atuação da Polícia Rodoviária Federal no segundo turno das eleições de 2022, com ações coordenadas para dificultar o voto em regiões favoráveis a Lula. A PGR também identificou a promoção intencional de discursos falsos sobre fraude eleitoral como estratégia para instigar desconfiança e rebelião entre seus apoiadores.
Por fim, Gonet destaca que Bolsonaro não apenas tolerou, como encorajou os acampamentos em frente aos quartéis, que serviram como base para ações golpistas. Sua própria fala ao STF, admitindo que buscou uma “alternativa na Constituição” para reverter a derrota, é interpretada como confissão.
Para a PGR, o inconformismo com decisões judiciais jamais justificaria a preparação de medidas autoritárias. O parecer de Gonet é, assim, um marco na responsabilização do ex-presidente por atentar contra a democracia brasileira.