Einstein e a confusão da linguagem

Einstein e a confusão da linguagem

O conceito de espaço-tempo, introduzido por Albert Einstein, revolucionou a ciência moderna ao sugerir que o tempo não é absoluto, mas sim uma dimensão que pode ser distorcida pela massa e energia, comportando-se como o espaço. Contudo, a natureza exata desse conceito – se é uma estrutura, uma substância ou uma metáfora – permanece um “problema” complexo.

Em um artigo publicado no The Conversation, Daryl Janzen, da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, argumenta que o desafio de entender o espaço-tempo não é apenas técnico, mas também profundamente linguístico e filosófico.

Linguagem Vaga e o “Universo em Bloco”

O cerne do problema, segundo Janzen, reside na linguagem vaga e inconsistente usada para descrever o conceito. Palavras cotidianas como “tempo”, “existir” e “atemporal” foram reaproveitadas em contextos técnicos da física moderna sem que seus significados fossem devidamente examinados.

Na Filosofia da Física, o termo “atemporal” é levado ao extremo:

A ideia é que o tempo não flui nem passa e que todos os eventos ao longo do tempo são igualmente reais dentro de uma estrutura quadridimensional conhecida como “Universo em bloco”. De acordo com essa visão, toda a história do Universo já está traçada, atemporalmente, na estrutura do espaço-tempo.

O Universo em Bloco implica que não há mudança, apenas um bloco eterno onde toda a história existe simultaneamente. Isso levanta uma questão metafísica: o que realmente significa dizer que o espaço-tempo “existe”?

Existência vs. Ocorrência

Janzen aponta uma diferença estrutural entre existência (um modo de ser) e ocorrência (um modo de acontecer).

“Quando os físicos dizem que o espaço-tempo ‘existe’, eles geralmente estão trabalhando dentro de uma estrutura que silenciosamente obscureceu a linha entre existência e ocorrência. O resultado é um modelo metafísico que, na melhor das hipóteses, carece de clareza e, na pior, obscurece a própria natureza da realidade,” explica Janzen.

O especialista reitera que essa crítica não invalida a teoria matemática da relatividade ou suas equações – as fórmulas de Einstein continuam válidas. O debate, no entanto, é crucial, pois a forma como interpretamos essas equações e a natureza do espaço-tempo molda nossa compreensão sobre as viagens no tempo, multiversos e os problemas mais profundos da física.

Definir o espaço-tempo é, portanto, mais do que um debate técnico; é uma discussão sobre a natureza do mundo em que acreditamos viver.

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