Condenada e fora do país, Carla Zambelli adota estratégia de exílio político e busca reaproximação com Bolsonarismo radical

Segundo Fábio Andrade, cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, é possível, partindo do benefício da dúvida, que Zambelli tenha saído do país por motivos de saúde e que pretenda retornar. “Não podemos descartar esse cenário. No entanto, há outras duas possibilidades mais prováveis”, avalia Andrade.
A primeira hipótese é de que Zambelli reconheça que sua condenação é iminente. Ciente de que não contará com apoio suficiente na Câmara para reverter a decisão ou obter uma anistia — especialmente considerando que seu nome não está incluído em nenhum dos projetos de anistia em discussão —, ela pode ter optado por deixar o país como último recurso. A estratégia, nesse caso, seria buscar refúgio em uma nação que não possua tratado de extradição com o Brasil, numa tentativa de preservar sua liberdade.
A segunda possibilidade, que chama mais a atenção do professor, é a tentativa de reposicionamento político. Diante de um cenário institucional adverso, Zambelli pode estar buscando se reaproximar de grupos bolsonaristas mais radicais, dos quais foi afastada. Esse movimento ganharia sentido especialmente no contexto da ausência de Eduardo Bolsonaro do cenário político e das recentes manifestações, por parte de setores do governo dos Estados Unidos, sobre ações de pressão internacional contra instituições que, segundo eles, estariam agindo contra apoiadores de Donald Trump — como seria o caso do STF no Brasil.
“Analiticamente, me parece que Zambelli adota uma estratégia dupla: de defesa pessoal, visando evitar a prisão, e de tentativa de se recolocar como figura simbólica de uma narrativa bolsonarista que acusa o sistema político brasileiro de perseguição”, diz Andrade.
Para o coordenador do curso de Direito da ESPM, Marcelo Crespo, o procedimento envolve cooperação internacional e pode enfrentar obstáculos jurídicos: “O Supremo Tribunal Federal pode, sim, intimá-la. Existe um instrumento jurídico chamado carta rogatória, que é utilizado para solicitar a cooperação de autoridades estrangeiras quando a pessoa está fora do país. Esse processo costuma levar algum tempo para ser concluído.”
“Além disso, se ela estiver em um país onde foi emitido o seu passaporte — ou seja, se ela for cidadã daquele país —, dificilmente será extraditada, pois muitos países não extraditam seus próprios nacionais. Por isso, é importante verificar onde o passaporte foi emitido e em qual país ela se encontra atualmente”, analisa o docente.
Fonte: Fabio Andrade, cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, e Marcelo Crespo, professor e coordenador dos cursos de Direito da ESPM