Cientistas brasileiros propõem meta de carbono zero até 2040 e nova economia climática

Cientistas brasileiros propõem meta de carbono zero até 2040 e nova economia climática

Às vésperas da COP30 em Belém, a comunidade científica brasileira apresentou um duplo chamado à ação: colocar a ciência no centro das decisões e antecipar a meta nacional de neutralidade de carbono para 2040, dez anos antes das metas globais. Dois documentos recentes — o Brazil Net-Zero by 2040 e a proposta da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da SBPC — apontam que o Brasil pode liderar uma transição climática baseada em resiliência, inovação e justiça social.

🌡️ O Alerta da “Economia da Adaptação”

Em um workshop no Rio de Janeiro, 72 pesquisadores e gestores apresentaram o conceito de uma “economia da adaptação”. A ideia é transferir o foco das políticas públicas da mera mitigação de emissões para a preparação do país diante dos impactos já inevitáveis da crise. O climatologista Carlos Nobre alertou que o planeta já atingiu temporariamente de aquecimento e que a Amazônia está começando a perder sua função de sumidouro de carbono. Nobre enfatizou que, sem ciência e políticas de longo prazo, o colapso climático regional é apenas “questão de tempo”.

🌳 Caminhos para Carbono Negativo

O estudo Brazil Net-Zero by 2040, coordenado pelo Instituto Amazônia 4.0, detalha caminhos concretos para zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE) até 2040. O trabalho, baseado no modelo BLUES (COPPE/UFRJ), propõe dois eixos principais:

  1. AFOLU 2040 (Agricultura, Florestas e Uso da Terra): Exige desmatamento zero até 2030 e forte reflorestamento.
  2. Energy 2040 (Transição Energética): Prevê a eliminação da produção de petróleo e gás e o fortalecimento de biocombustíveis com captura e armazenamento de carbono.

O engenheiro Roberto Schaeffer (COPPE) sublinhou que o desafio do Brasil é ser negativo em CO₂, absorvendo mais carbono do que emitindo.

💸 Falta de Investimento na Amazônia

As propostas convergem na necessidade de uma nova governança climática e de um ecossistema nacional de finanças para adaptação, envolvendo órgãos como Finep, BNDES, Fundo Clima e Fundo Amazônia.

Apesar do aumento dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), os cientistas alertam que o diagnóstico é desproporcional: a Amazônia, que cobre 60% do território nacional, recebe menos de 4% dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação. A multiplicação de eventos extremos e a contaminação na região reforçam a urgência de transformar a Amazônia em um centro de inovação climática, e não em um símbolo do colapso.

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