Mega-operação realizada nos complexos do Alemão e Penha desorganiza mobilidade e agrava desigualdade no Rio

Mega-operação realizada nos complexos do Alemão e Penha desorganiza mobilidade e agrava desigualdade no Rio

Mais de dois meses após a operação policial nos complexos do Alemão e da Penha, realizada em 28 de outubro de 2025, os impactos sociais e urbanos daquela terça-feira trágica ainda ecoam na região metropolitana do Rio de Janeiro. A incursão, que resultou em 122 mortes, é analisada agora sob a ótica da mobilidade urbana. Estudos indicam que a operação não apenas violou direitos humanos fundamentais, mas também paralisou a dinâmica da cidade, afetando de forma desproporcional a população negra e periférica que depende exclusivamente do transporte público.

A redução no número de viagens de ônibus chegou a 25% em toda a cidade, mas nas áreas próximas ao conflito, o impacto foi devastador. Linhas que conectam a Zona Norte ao Centro registraram quedas acentuadas, deixando milhares de trabalhadores sem meios para retornar às suas casas ao final do expediente. O cenário reforça a tese de que operações de segurança pública de larga escala funcionam como mecanismos de exclusão, tratando territórios populares como espaços de exceção à legalidade.


O colapso do sistema de ônibus

Diferente do metrô, que atende apenas 12,4% dos domicílios e possui tarifas elevadas, os ônibus são a espinha dorsal do transporte carioca. Durante a operação, esse sistema entrou em colapso seletivo:

  • Impacto no Horário de Pico: Enquanto o fluxo da manhã manteve certa estabilidade, o número de passageiros no pico da tarde foi 62% menor que a média. Isso indica que o pânico e a interrupção de serviços impediram o retorno seguro dos cidadãos.

  • Linhas Afetadas: Das 500 linhas municipais, 32 passam pelo entorno do Alemão e da Penha. Nessas rotas, a queda de viagens atingiu 37%, com interrupções totais de itinerários a partir das 15h.

  • Exemplo da Linha 313: O serviço Penha-Praça Tiradentes parou completamente de funcionar no meio da tarde, exemplificando o isolamento total imposto aos moradores da região.

Desigualdade e seletividade espacial

A análise dos dados de circulação revela que a violência institucional não atinge a cidade de forma homogênea. O impacto recai sobre quem possui menos alternativas de deslocamento. A criminalização de territórios majoritariamente negros e o fechamento de vias estruturantes desorganizam a economia local e o acesso a serviços básicos, como educação e saúde. O STF, no âmbito da ADPF das Favelas, tem exigido planos de redução de letalidade, mas a ausência de protocolos que considerem a vida urbana cotidiana permanece um desafio crítico.

O papel do Poder Público

Especialistas defendem que o município e as instâncias federais devem exigir do Governo Estadual protocolos operacionais que considerem a mobilidade e a segurança dos cidadãos não combatentes. Ignorar como essas operações “sangram” o bem-estar dos moradores é naturalizar a reprodução de injustiças históricas. A recorrência desses episódios gera um ciclo acumulativo de pobreza e exclusão social em uma metrópole que já enfrenta indicadores sociais alarmantes.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *