Bolsonaro alega “surto”, mas audiência mantém prisão preventiva e direita de MS se une contra
Durante audiência de custódia realizada neste domingo (23), o ex-presidente Jair Bolsonaro alegou que a tentativa de violar a tornozeleira eletrônica foi em razão de um surto psicótico, causado por medicamentos. Ele negou, ainda, qualquer intenção ou tentativa de fuga.
Mesmo assim, a juíza responsável, Luciana Sorrentino, decidiu manter a prisão do ex-presidente após a audiência de custódia.
Em depoimento, Bolsonaro alegou que teve uma cisma em razão dos medicamentos que tem tomado, remédios que têm influenciado também em seu sono. Inclusive, relatou que começou a tomar um dos medicamentos quatro dias antes do surto.
Em razão disso, ele resolveu mexer na tornozeleira com um ferro de soldar, já que ele teria conhecimento do manuseio do equipamento.
Ele também afirmou que mexeu na tornozeleira por volta da meia-noite, mas depois “caiu na razão” e parou de usar a solda, quando se comunicou com os agentes de custódia. Ele disse não se lembrar de qualquer outro surto dessa natureza em outros momentos e que não teria nenhuma intenção de fuga.
Próximos passos
A audiência de custódia se encerrou por volta das 12h40, pelo horário de Brasília. No procedimento, ficou decidido que o ex-presidente permanecerá preso, já que todos os procedimentos da Polícia Federal foram cumpridos adequadamente.
Nesta segunda-feira (24), a Primeira Turma do Supremo vai julgar se mantém a decisão do juíz Alexandre de Moraes ou se revoga a prisão. A sessão extraordinária deve acontecer entre as 8 horas e 20 horas (horário de Brasília).
Os ministros que devem votar são Flávio Dino (presidente da Turma), Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, integrantes do colegiado. Moraes não vota porque a decisão já é dele.
Caso seja votado que a decisão de Moraes foi dada corretamente, Bolsonaro terá a prisão preventiva mantida por tempo indeterminado, ou seja, até quando a Justiça entender que é necessária.
Por lei, prisões preventivas são reavaliadas a cada 90 dias.
Além da prisão, Moraes também determinou que:
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- Bolsonaro terá atendimento médico integral na Polícia Federal;
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- Qualquer visita deve ser autorizada previamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), exceto de advogados e da equipe médica;
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- Todas as visitas autorizadas previamente estão canceladas.
Como reagiu a direta de MS
A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que decretou neste sábado (22) a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, desencadeou forte reação entre diversas lideranças da direita sul-mato-grossense, que se manifestaram de forma quase unânime e firmaram críticas à decisão do magistrado.
De modo geral, a medida desencadeou repúdio da ala defensora do ex-presidente nas redes sociais, e provocou reações entre senadores, deputados federais, vereador e até mesmo o governador Eduardo Riedel (PP), que assim como os demais, contestou a decisão de Moraes.
O governador lamentou a prisão preventiva e manifestou solidariedade ao ex-presidente, ressaltando que Bolsonaro possui comorbidades e demanda cuidados especiais de saúde.
Em suas redes sociais, Riedel afirmou que a decisão foi tomada em momento inadequado, já que o processo ainda não teve todos os recursos esgotados, e reforçou que a situação aumenta a polarização política no país.
Para o governador, o Brasil precisa de paz e segurança jurídica para enfrentar seus problemas reais e avançar rumo ao desenvolvimento desejado pela população.
Por sua vez, o deputado federal Luiz Ovando (PP) disse em suas redes sociais que a ordem de prisão representa “profunda perplexidade” e acende um alerta sobre o estado das garantias constitucionais no país.
Ovando destacou o histórico clínico de Bolsonaro, lembrando múltiplas cirurgias abdominais, episódios de vômito e limitações físicas severas, e reforçou que, sob qualquer critério técnico, não haveria fundamento para retirá-lo do regime domiciliar.
O parlamentar afirmou que, ao agir dessa forma, a Justiça produz “insegurança e humilhação”, afastando-se de seus próprios princípios, e concluiu que a medida apenas aprofunda feridas políticas, em vez de contribuir para a pacificação nacional.
No Senado, as manifestações seguiram linha semelhante. Nelsinho Trad (PSD) afirmou que a questão não deveria ser tratada como disputa ideológica entre esquerda e direita, mas como um debate sobre respeito aos direitos de qualquer cidadão.
Quando uma prisão preventiva acontece em condições que levantam dúvidas sobre proporcionalidade e clareza, algo ultrapassa a política. Isso não é assunto de esquerda, direita ou centro — é sobre garantir que todo cidadão tenha seus direitos respeitados.
— Senador Nelsinho Trad (@nelsinhotrad) November 22, 2025
Já a senadora Tereza Cristina (PP) classificou a ação do STF como “inesperada e abusiva”, apontou fragilidade no estado de saúde de Bolsonaro e prestou solidariedade ao ex-presidente e sua família, defendendo a necessidade de estabilidade institucional e rigor no devido processo legal.
Entre os deputados federais, o tom se elevou. Rodolfo Nogueira (PL), conhecido como “Gordinho do Bolsonaro”, afirmou que “a perseguição desse ditador passou de todos os limites”, compartilhando manchetes e alegando que a prisão teria ocorrido por causa de uma simples “vigília de oração” organizada em frente ao condomínio onde o ex-presidente reside.
No legislativo municipal, o vereador campo-grandense Rafael Tavares (PL) também criticou a decisão, publicando mensagens de apoio e um vídeo no qual sugere que a prisão possui simbolismo político semelhante ao da multa de R$ 22 milhões aplicada ao PL.
Tavares ironizou os fundamentos apresentados e declarou que Bolsonaro estaria sendo alvo de perseguição política, afirmando ainda que a esquerda cairá “mais rápido do que imagina” e que o ex-presidente “não roubou ninguém”.
A postura mais categórica veio do deputado federal Marcos Pollon (PL), que chamou a prisão de “estapafúrdia, exclusivamente política e com requintes de crueldade”.
Para ele, não há fundamentos jurídicos na decisão de Moraes, tampouco relatório comprovando violação da tornozeleira eletrônica.
Pollon afirmou que a medida seria “uma decisão premeditada, criada em cima de uma mentira”, e que se trata de “uma tentativa de assassinato de reputação”. Em sua visão, a detenção de Bolsonaro simboliza um ataque ao país e um recado claro de que o cidadão comum “não merece ter esperança”.
Prisão
Bolsonaro já havia sido condenado a 27 anos e três meses em primeira instância por tentativa de golpe, mas o processo ainda não transitou em julgado. Ele cumpria monitoramento eletrônico através da tornozeleira e deveria cumprir uma série de exigências exigidas pelo legislativo, como não se ausentar de sua residência, ter o passaporte retido, não receber visitas que estivessem portando celular ou aparelhos eletrônicos, entre outras.
No último sábado, às 01h08, o sistema de monitoramento registrou uma violação na tornozeleira eletrônica de Bolsonaro, o que Moraes classificou como um “fato novo” e que reforça o risco de evasão.
Outro ponto considerado foi uma vigília de oração convocada pelo filho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro, em frente ao condomínio do pai.
A junção dos fatores levou Moraes a avaliar que o plano da família era causar tumulto e confrontos, gerando um ambiente favorável a uma eventual fuga, semelhante aos acontecimentos de 2022.
A proximidade de Bolsonaro com embaixadas, especialmente dos Estados Unidos também pesou na análise no ministro, juntamente com a movimentação recente de aliados como a fuga de Alexandre Ramagem para Miami e a saída do país de Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro, avaliando que os episódios revelam um padrão organizacional de evasão que poderia se repetir.
A decisão ocorre no contexto do inquérito que investiga possível atuação de Eduardo Bolsonaro junto a autoridades americanas para coagir o STF durante o julgamento da ação penal do golpe.
