o novo espetáculo digital que coloca celebridades diante da multidão

o novo espetáculo digital que coloca celebridades diante da multidão

Navegar pelas redes sociais hoje é quase inevitavelmente se deparar com um novo formato de conteúdo: um influenciador, celebridade ou figura pública cercado por uma multidão de críticos, fãs ou adversários ideológicos. Esse modelo, conhecido como “um contra muitos”, está se tornando um dos grandes espetáculos digitais do momento — e levantando debates sobre poder, cultura e democracia.

Um artigo do The New York Times analisa o fenômeno como uma dramatização da relação desigual entre figuras públicas e suas audiências, evoluindo das tradicionais relações parasociais — nas quais o público sente intimidade com quem o consome, mas sem reciprocidade.

Zona de Fogo: o confronto como entretenimento
No Brasil, o canal Spectrum, no YouTube, tem se destacado com o quadro “Zona de Fogo”, que coloca personalidades em um círculo cercado por 20 participantes com visões opostas.

Em episódios como “1 Comunista vs 20 Conservadores (ft. Jones Manoel)” ou “1 Deputado de Esquerda vs 20 Conservadores (ft. Cortez)”, o formato explora o choque ideológico em tempo real, com altos níveis de tensão. Criado há sete meses, o canal já conta com mais de 200 mil inscritos e tem gerado repercussão — e preocupação.

Em um dos episódios, um participante afirmou que o debate só seria possível “na porrada”, evidenciando o risco de escalada verbal e simbólica nesse tipo de confronto.

A vingança dos fãs: inversão do poder

O formato também carrega uma dimensão de catarse coletiva — uma espécie de “acerto de contas” com quem está no centro do poder simbólico.

Nos EUA, a série Surrounded, da produtora Jubilee, coloca comentaristas como Candace Owens (conservadora) e Mehdi Hasan (progressista) diante de 20 pessoas comuns que os questionam, muitas vezes com hostilidade.

O ex-kickboxer Andrew Tate levou a lógica ao extremo ao organizar em Dubai um evento em que lutou fisicamente contra 60 seguidores. Já a criadora de conteúdo adulto Bonnie Blue promoveu uma “maratona sexual” com mais de mil fãs em Londres, transformando seu corpo em espetáculo de consumo coletivo.

Personae e a ilusão da intimidade

O conceito de persona — criado em 1956 pelos sociólogos Donald Horton e R. Richard Wohl — explica como artistas e apresentadores criam uma ilusão de intimidade com o público. Essa relação, chamada de parassocial, funcionava como um “remédio social” contra a solidão.

Com as redes sociais, essa barreira desapareceu. Hoje, qualquer perfil no Instagram ou TikTok pode gerar fascínio coletivo, e celebridades são constantemente expostas a olhares, críticas e cobranças. O “um contra muitos” é, em certo sentido, a inversão do script: o público, por alguns minutos, ocupa o centro do poder.

Espetáculo ou democracia?

O formato levanta uma pergunta urgente: até que ponto esses confrontos ampliam o diálogo democrático? Ou são apenas um espetáculo de vingança simbólica, em que o público, por um momento, “derrota” quem está no topo?

Embora prometa pluralidade, o “um contra muitos” muitas vezes dramatiza, mas não resolve. O debate vira performance, e a verdade, muitas vezes, perde espaço para o entretenimento.

Com informações: The New York Times e análise cultural / Revista Fórum

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